É a partir deste ponto que vamos trabalhar especificamente como se deu a sociedade e a cultura nacional a partir de uma identidade cultural formada pelas multiplicidades de culturas.
A cultura é um processo cumulativo de conhecimentos e práticas resultantes das interações, conscientes e inconscientes, materiais e não-materiais, entre o homem e o mundo, a que corresponde uma língua; é um processo de transmissão pelo homem, de gerações em gerações, das realizações, produções e manifestações, que ele efetua no meio ambiente e na sociedade, por meio de linguagens, história e educação, que formam e modificam sua psicologia e suas relações com o mundo. Cultura é conceito que amplia sua abrangência, a partir do século XIX, quando a arte se distancia da utilidade, ou da necessidade das sociedades tradicionais, ganhando autonomia.
Na verdade, a cultura é sempre multifacetária, dinâmica. A cultura no singular, que define a identidade de uma nação, só existe como resultado da luta simbólica que se dá no campo cultural. Em resumo, o campo cultural é espaço de luta permanente entre os grupos sociais, que buscam reconhecimento e visibilidade, negando a uniformização e mesmo
A expressão cultural parte do princípio da percepção do mundo e o imaginário. As produções incluem artes plásticas, literatura, música, estudos, contos e lendas, cozinha; as manifestações incluem as festas, cerimônias e religiões, os mitos, símbolos e tabus. As ciências são outra forma de realização; correspondem aos conhecimentos e às práticas consideradas aqui como saber técnico.
Uma interessante reflexão sobre identidade nacional foi apresentada por Carteri¹:
“A identidade de um povo está presente no imaginário dos indivíduos, residindo e sendo transmitida culturalmente nas artes, na música, na literatura, na arquitetura, na mídia, na tradição oral, no folclore, etc. A identidade nacional brasileira é uma construção que aglutina elementos sócio-culturais diversificados, oriundos de diferentes grupos etnológicos. Embora não exista uma construção ordenada, guiada conscientemente por todos os envolvidos no processo de formação da identidade brasileira, o elementos sócio-culturais aglutinaram-se e são reconhecidos como componentes de uma identidade nacional baseado nas expectativas que o povo possui e também nas decisões oriundas da elite que os considera relevantes para corroborar a sua concepção de identidade nacional.
[...]
Mais do que a preocupação ideológica com o estabelecimento de uma identidade nacional, o povo brasileiro trazia em sua mestiçagem a mazela de uma inferioridade racial diante das raças “puras”, “civilizadas” e “desenvolvidas”. Embora o sincretismo racial tenha sido primeiramente considerado a causa do ”atraso” brasileiro e, posteriormente, a qualidade primeira do Brasil, ambos posicionamentos ideológicos coexistem até a atualidade; ainda hoje pessoas afirmam que maior problema do país é “não ter um povo”, revelando claramente a concepção de raça pura como ideal. Mas, em contrapartida, cada vez mais os diferentes componentes culturais das diversas raças e povos que vieram para o Brasil, forçados ou por livre opção, são reconhecidos e incorporados aos diversos “Brasis” que constituem o Brasil. Se o discurso dominante seleciona determinados elementos oficialmente e os impõe ao povo brasileiro, o povo recria sua própria concepção de identidade nacional, respeitando suas diversidades internas e regionais. Ao se abandonar uma concepção etnocentrista onde o modelo sócio-cultural europeu ou estadunidense é o ideal, é possível vislumbrar na heterogeneidade brasileira uma característica própria, indiferente de ser positiva ou negativa, que caracteriza uma identidade que é brasileira. Esta identidade, multifacetada, transborda em ritos, cultos, expressões, festas, danças, músicas, provérbios, trotes, enfim, coisas que misturam e remisturam elementos culturais diversos, recriando-os e transmitindo-os. É preciso que o povo brasileiro reconheça-se nessa heterogeneidade, assumindo-a como representativa de sua realidade sócio-cultural, nem inferior, nem superior às demais, apenas diferente. Única.” (CARTERI, 2011)
COMO NASCE A CULTURA DO POVO BRASILEIRO?
A cultura como identidade nacional podemos dizer que vai nascer a partir da década de 30, que foi um ano de grandes transformações brasileiras e que irá modificar a maneira do “ser brasileiro”.
Antes disso, éramos um país multicultural, mas sem o envolvimento das culturas, umas com as outras. No começo da década de 20 há um aumento nas tiragens de livros e periódicos Visto que, o meio de se divulgar cultura era através dos cinemas boletins, periódicos e jornais, mas o que não podemos deixar de observar é que como já vimos em textos anteriores, éramos um país com uma grande população de analfabetos, cerca de 75%, contrapondo com o surgimento de uma elite de letrados. A literatura ainda era restritamente ligada à impressa. Como podemos perceber a quantidade de quem tinha acesso a informação e cultura era uma pequena parte da população.
Sociedade & Cultura
Sociedade & Cultura
- Semana de Arte Moderna de 1922
- Artistas com a pretensão de romper a realidade agrária mostrando à sociedade brasileira os sinais da modernidade, acreditando influenciar a tradicional sociedade.
- Em São Paulo já havia “sinais da modernidade”, como o asfalto e rádio, contrastando com a realidade de uma São Paulo provinciana, ainda não acostumada à velocidade das mudanças.
A modernidade nunca deixou de ser um projeto, um objetivo a ser alcançado. Mas é a partir da década de 30 com o fim da Republica Velha e com o crescimento do Radio que passa a ter um preço mais acessível e a chegada da TV que a disseminação de várias culturas começa a se alastrar. Com a crise advinda do período pós-guerra, traz uma estagnação do mercado editorial e algumas conseqüências para o mercado cinematográfico. Os rádios se tornavam mais populares e acessíveis. Surge a TV com os seus espetáculos e programas de auditório e também as rádios novelas com a popularização do rádio.
Como o crescente mercado das publicações, cresce também as empresas de fabricação de papel e as revistas e livros passam a atender diferentes públicos. Com isso há uma crescente busca para a criação de uma identidade nacional, sendo reinterpretados valores antes negados pela elite. É onde surge a mistura das raças, o samba o carnaval e o futebol passando estes a ser constitutivos da cultura brasileira que passa também a ser exportado para o exterior. O radio e o cinema também foi peça importante para essa nova reinterpretação do “ser brasileiro.
Semana de Arte Moderna
Quadro de Tarsila.
A IDENTIDADE CULTURAL NAS ARTES: CONSTRUINDO UMA BRASILIDADE
Nas artes: O quadro acima retrata um aspecto da identidade cultural brasileira: o desejo de embranqueci mento via miscigenação racial. Observe: a avó negra agradece aos céus o bebê "quase branco", filho de uma mãe mulata com um pai branco. A análise não é minha. É apresentada para justificar o título "A maldição de Cam". Quadro premiado no início da República mostra que para escapar da maldição de Cam (uma explicação bíblica distorcida que justifica o sofrimento do povo negro) é preciso ser branco. Então, como redimir-se de tal maldição? Tornar-se branco!
Se o quadro acima lhe parece familiar, tudo bem, mas não é o que você está pensando. Parece o Grito do Ipiranga, mas não é.Este quadro é Friedland. Ele foi feito anos antes do nosso e o personagem central é Napoleão Bonaparte. Pedro Américo "plagiou" o quadro do coleguinha europeu para criar a imagem de D. Pedro I como grande estadista. Seria uma forma de construir o "mito fundador" de que fala Marilena Chauí?
Este sim é O Grito do Ipiranga. Observe a luminosidade. O garbo dos cavaleiros. A posição central de D. Pedro I. O povo presente na forma de condutores de bois.
OUTRO ELEMENTO DA IDENTIDADE NACIONAL: NOSSA MÚSICA!
Neste caso, a letra da música é uma fusão da lusitanismo e da brasilidade
MUSICA
Fado Tropical
(Chico Buarque E Ruy Guerra)
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose
de lirismo...(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em
torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
* trecho original, vetado pela censura
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose
de lirismo...(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em
torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
* trecho original, vetado pela censura
Capturado em 0lº/11/2011
Calabar - o elogio da traição, de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra
Peça teatral sobre a traição de Calabar, personagem da história brasileira que foi considerado traidor por ficar ao lado dos holandeses na guerra contra Portugal. Com Calabar - o elogio da traição, visam divertir o público, espalhando pontos de interrogação, dúvidas e perplexidades. Surpreendendo pelo atualizado deboche crítico, fundamentado num confronto realista com temas essenciais de nossa existência de nação social-econômica-política- culturalmente ainda colonizada num tímido mas empenhado esforço de construção de uma democrática cultura nacional-popular.
Capturada em 01º/11/2011
REFERÊNCIAS
MORAES, SONIA.CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL
Uma leitura sobre o Modernismo.
NARDI, Jean Baptiste.CULTURA, IDENTIDADE E LÍNGUA NACIONAL NO BRASIL: UMA UTOPIA?•
DISPONÍVEL EM: <http://www.slideshare.net/luis.rick/sociedade-e-cultura-1334688>. Acessso em 04 de dezembro de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário